Quando alguém pisa no tatame pela primeira vez, uma das primeiras perguntas que surge é:
“Quanto tempo demora para eu ser faixa preta?”
A resposta honesta é: depende. Mas calma — existe um quadro geral.
Em média, quem treina com regularidade (3–4x por semana), participa de aulas técnicas + rola e mantém consistência, leva de 8 a 12 anos para chegar à tão sonhada faixa preta. A Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu (CBJJ) inclusive estabelece tempos mínimos por faixa, o que torna esse processo deliberadamente lento — de propósito.
Renzo Gracie, em uma entrevista ao Jocko Podcast, explicou isso de maneira direta:
“Demora porque não é só sobre técnica; é sobre maturidade de jogo, de caráter e de entendimento do Jiu-Jitsu até nas entrelinhas.”
Ou seja: não é um troféu por frequência. É uma transformação de longo prazo.
Por que demora tanto?
Existem pelo menos 4 variáveis que alongam ou encurtam esse caminho:
1) Consistência real — não intensidade aleatória
Treinar 3 meses enlouquecidamente e sumir por 2 meses não te aproxima da preta.
Neurociência 101: consolidação motora exige repetição distribuída, não explosiva. Estudos de aprendizagem motora (Johansson & Cole, 1992; Krakauer, 2006) mostram que habilidades complexas dependem de prática persistente ao longo de anos, não de “mutirões de treino”.
2) Ambiente e método
Treinar em uma academia com professores presentes, correção constante e estrutura de competição acelera maturidade de jogo.
Bernardo Faria comenta recorrentemente no podcast da BJJ Fanatics:
“Mais importante que o número de treinos é o quão bem você é corrigido.”
3) Competições
Competir expõe buracos técnicos que o treino recreativo nunca revela. Por isso, quem compete tende a evoluir mais rápido — não por medalhas, mas por feedback brutal da realidade.
4) Idade, corpo, histórico esportivo
Ex-lutadores de wrestling, judô ou grappling chegam na faixa azul já pensando como faixa roxa. Um adulto sedentário que começou do zero, não. O relógio não corre igual.
A linha do tempo (crua e simples)
| Faixa | Tempo médio (constante) |
|---|---|
| Branca → Azul | 1,5 – 3 anos |
| Azul → Roxa | 2 – 3 anos |
| Roxa → Marrom | 1,5 – 2,5 anos |
| Marrom → Preta | 1 – 2 anos |
| Total médio | 8 – 12 anos |
“Mas e se eu treinar todo dia, faixa preta em 4 anos?”
Joe Rogan já ironizou isso no Joe Rogan Experience:
“Se você acha que está acelerando o processo, é porque não entendeu o processo.”
O tatame tem um jeito silencioso de corrigir ilusões: todo mundo encontra alguém melhor que você, cedo ou tarde.
Como não desistir no meio do caminho
– Baixe a meta do pedestal: não treine “para ser preta”, treine “para voltar amanhã”.
– Tenha ciclos: 3–4 meses focando em um aspecto só (guarda fechada, quedas, back-take…).
– Treine nos dias ruins: os dias em que você não quer ir contam o dobro.
– Cerque-se de gente que não te deixa mole e não te deixa quebrar.
André Galvão disse algo que virou quase mantra moderno:
“A faixa preta é apenas o começo — o que você virou para chegar nela é que importa.”
Conclusão
Chegar à faixa preta não é uma corrida — é um processo de sedimentação.
Demora porque precisa demorar: exige volume, maturidade, cicatrização de ego, refinamento de leitura, paciência e retorno teimoso ao tatame quando o mundo todo te dá desculpas para não ir.
Você não alcança a faixa preta indo forte — você alcança a faixa preta não parando.